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Sustentar a vida. Economia feminista, ecofeminismo e mudança climática

(Re)pensar a provisão dos cuidados (ações que sustentam o ser e o bem viver físico, social, emocional e/ou psicológico de uma pessoa) e da natureza (ecossistemas que envolvem o nosso habitat e o bem viver) nos faz formular as perguntas: Como as nossas vidas se sustentam? Quem são as pessoas que sustentam as nossas vidas? e quais são as bases estruturais e institucionais que sustentam as nossas vidas? Essas perguntas abrem o debate necessário em relação a nossa interdependência e necessidades de cuidado como pessoas, famílias, comunidades e/ou grupos sociais e a nossa ecodependência como espécie e parte da natureza e mais ainda em um contexto de crise climática.

Autora: Kely Alfaro

Descripción

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O cuidar da natureza e das pessoas constitui um desafio sem precedentes e afeta de maneira significativa a América Latina pelas lacunas estruturais (desigualdades) já existentes que, com a mudança climática, se tornam mais graves. Apesar dos acordos internacionais e dos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris, as emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando, revelando a insuficiência das políticas atuais e a falta de vontade para enfrentar de forma eficaz a raiz do problema. Nesse cenário, na América Latina surgem propostas que apostam por um bem-estar entendido como bem viver e um conviver das pessoas integradas à natureza. Embora os países da América Latina não sejam os principais emissores históricos, eles experimentam de maneira desproporcional os impactos da mudança climática devido a sua localização territorial e as suas dimensões de desigualdade histórica que fazem a interseção com temas de classe, gênero, território e interculturalidade principalmente.

A matriz extrativa que pressupõe a exploração da natureza vista como estoque de capital natural principalmente de recursos minerais e de petróleo (ecossistemas dos Andes e Amazônicos), recursos madeiráveis (ecossistemas de florestas), recursos hidrobiológicos (ecossistemas marinhos) e práticas agrícolas insustentáveis deixaram a região com perdas de biodiversidade, de ecossistemas, e com insegurança alimentar.

Esses problemas refletem um sistema que prioriza o lucro sobre a natureza. Prejudicando, principalmente, o bem-estar das pessoas que se encontram em vulnerabilidade como as comunidades locais, em particular as mulheres, os povos indígenas (que são os que mais dependem da natureza para subsistir), as pessoas de baixa renda e outros grupos vulneráveis são os que enfrentam os impactos mais severos pelas desigualdades históricas e estruturais, como a falta de controle sobre os fatores produtivos, cargas familiares desproporcionais e discriminação institucional e social. Essa inequidade é um reflexo de um sistema socioeconômico injusto que concentra os benefícios e a visão no curto prazo, perpetuando, dessa forma, as estruturas de poder e as desigualdades existentes. Nesse contexto, é imperativo que seja feita uma transformação profunda. Este documento procura refletir, abordando de maneira crítica o sistema atual ao colocar no centro a sustentabilidade da vida.